COMO NUM FILME
Não foi difícil cair nas graças de seu Amalfi. Direto, sincero, amoroso,
foi logo falando de sua vida, com um jeito meio solto, especial, como quem
vai montando uma sequência de cenas em nosso pensamento. De início,
estáticas e em preto e branco, e, aos poucos, em impulsos coloridos. Depois
de uma ou outra pergunta, quase nem precisei falar mais nada. Apenas ouvir,
entregar-se à brincadeira da memória era o que bastava.
Ele foi contando, contando e imagens foram se instalando em mim
como quem entra em um filme.
“Esse cheirinho de café pendurado no vento leve conduz a meu tempo
mais antigo.
Pensei ouvir bem baixinho um fiapo de uma canção napolitana e
tudo veio à tona. Logo lembrei-me de minha mãe torrando café, fazendo
o pão, a macarronada. Bem que procuro não pensar muito para não
marejar os olhos.
O começo de tudo foi na Itália. De lá vieram meus pais. Fugidos do
horror da guerra, acabaram por fazer a vida aqui em São Paulo, onde
nasci.
É a partir dessas lembranças que minha cabeça parece uma máquina de
fabricar filmes.
Recordo muita coisa. Não só do que minha mãe contava, mais ainda
das que eu vivi.
Lá pelos idos de 1929, com cerca de sete anos de idade, era menino
feito. Minha vida era um misto de cowboy com Tarzan. Onde hoje fica o
Shopping Center Norte era só mato, água e muita, muita terra. Era lá meu
paraíso. Meu e dos meus amigos: o Vitorino, o Zacarias... Vivia para jogar
futebol, nadar, pescar e caçar passarinhos.
Uma brincadeira de que gostávamos muito era ‘chocar o trem’. Sabe o
que é isso?
Era subir rapidinho no trem em movimento. Ele andava bem devagar, é
claro, levando pedras da Serra da Cantareira para construir a cidade. Com
o tempo seu trajeto se encheu de bairros: Tucuruvi, Jaçanã, Vila Mazzei,
Água Fria e mais o que há agora. Lembra aquela música do Adoniran? Tem
a ver com esse trem...
Da escola eu não gostava tanto. Não era um bom aluno, mas era esperto,
vivido. Isso sim. O que acabava ajudando em muitas situações... Em um
abrir e fechar dos olhos da memória lá estão a escola, o corre-corre das
crianças e todos eles, intactos e em plena labuta do dia: Dona Albertina,
Dona Isabel, Seu Luís, os professores. Ainda o Seu Peter, o diretor, e Seu
Luigi, o servente. Quantas vezes em meio à cópia da lousa, que seguia plena
em silêncio e dever, disparava um piscar enviesado para meus companheiros
de time. Quebrávamos as pontas dos lápis e com o descaramento e a
falsa pretensão de deixarmos todos eles apontadinhos para a letra ficar
bem desenhada e bem bonita nas nossas brochuras, lá íamos nós, atrás da
porta e com a gilette em punho, armar em cochichos a melhor estratégia
para o próximo jogo. Tudo lorota!
Meio moleque, meio mocinho, sempre dava algum jeito de arranjar um
dinheirinho para ir à Voluntários, uma das poucas ruas calçadas do bairro,
nas matinês do cine Orion.
Meu figurino era feito por minha mãe: uma camisa clara, bem limpa e
passadinha com ferro de brasa. Com meus colegas ia ver o que estava em
cartaz. Bangue-bangue era o melhor. Lembro-me do Buck Jones, do Rin
Tin Tin, do Roy Rogers e mais uma porção daqueles bambas do momento.
Também me recordo do cine Vogue e de Seu Carvalho, seu dono e
operador, que, ao constatar a enorme fila na bilheteria, dizia para nós,
garotos, com certo orgulho solene, só haver lugares em pé. Entrávamos
mesmo assim. Depois de alguns minutos já tínhamos nossos lugares escolhidos
e... sentados. No escurinho do filme começado, queimávamos
um barbante malcheiroso que fazia todo mundo desaparecer de nosso
lugar preferido. Comédia pura, não é?
Nesse ponto, interrompa a leitura e pergunte aos alunos o
que imaginam que acontecerá ao sr. Amalfi. Como acham
que a história dele continua. Ouça alguns alunos, registre
as opiniões deles e depois retome a leitura, até o final.
Com o passar dos anos, veio o tempo do trabalho para valer. De aprendiz
de químico tornei-me o titular na fábrica de perfumes dos libaneses. Fiz
de tudo lá: brilhantina, rouge, pó de arroz, produtos muito usados na época.
Veio também o tempo do namoro sério e, com ele, o cinema com sorvete a
dois. Minha vida era um filme de aventuras, mais que outra coisa. Tive de
vencer muitos obstáculos. E foi um bom tempo assim.
Construir uma família não é fácil, mas, como se sabe, o amor sempre
vence.
Como nos filmes de amor, acabei me casando em technicolor e em cinemascope,
como um galã, com minha Mercedes, mais bonita que Greta Garbo ou
qualquer outra estrela de Hollywood. Com ela comecei a frequentar o centro
de São Paulo. Íamos de bonde elétrico, descíamos na Praça do Correio e
andávamos de braços dados pelos pontos mais elegantes da cidade.
Misturados aos carros que pertenciam a gente muito rica, estavam os
cabriolés,
uma espécie de carroça puxada a cavalos... Na Avenida São João
estavam os melhores cinemas: o Marabá, o Olido, com seus camarotes e frisas.
Quantos filmes! O Canal de Suez, O Morro dos Ventos Uivantes, E o Vento
Levou!
Vejo-nos direitinho, como em um musical, indo para a cidade de bonde.
O condutor, o Delmiro, mais parecia um bailarino, um Fred Astaire tropical,
por conta dos trejeitos, malabarismos de corpo que fazia ao parar, descer,
cumprimentar, receber as pessoas, acomodá-las e, enfim, conduzir o bonde.
Era mais que um motorneiro. Esse era um show à parte!
Se bem me lembro, o cinema me acompanhou a vida inteira. Isso porque
sou do tempo do cinema mudo, veja você, onde os violinos e o piano faziam
nossa imaginação ouvir as vozes e sentir as emoções dos artistas que passavam
rápidos nas telas. Depois veio o cinema falado e para nós isso era a
maior e a melhor invenção. Olhando para o que se passou, constato que fui
um bom frequentador das telas. Com chuva ou com sol!
Até nossa primeira filha, com poucos meses de idade, não impedia nossa
diversão preferida! Era nossa figurante proibida. Íamos ao Bom Retiro, ao
cine Lux. Lá eu conhecia todo mundo e sentávamos com a menina nos braços
bem na última fila, caso precisássemos sair às pressas para acalmar um
choro repentino. Assistimos a tantas histórias e nossa menina dormia profundamente.
Quase sempre.
Talvez por conta do trabalho, das exigências da vida, dos cuidados
com a família e mesmo com a facilidade da televisão, acabei me dando
conta de que fiquei muito tempo sem ir ao cinema. Engraçado, agora que
estou praticamente sozinho, em consequência das perdas que a vida nos
traz, o cinema volta com toda a força. Não perco quase nada do que passanos
shoppings perto de casa. Tudo é mais confortável, imenso. Mas tudo é
mais barulhento, apressado e real demais. Não sobra muito tempo para
sonharmos.
Mesmo assim, quero ir a outros cinemas desta cidade que cresceu e
cresce tanto. O jeito é me armar de um celular para que minha filha não
fique tão preocupada comigo por causa dessas minhas novas aventuras
cinematográficas.”
Quando releio o que está escrito, não sei onde está o que o seu Amalfi me
contou e onde está o que projetei de sua vida em mim. Engraçado mesmo!
Perdi-me nos labirintos da imaginação, onde o presente e o passado se fundem
em um só desenho. A memória brinca com o tempo, como em um filme,
como uma criança feliz.
Antonio Gil Neto. Texto escrito com base no depoimento do sr. Amalfi Mansutti, de 82 anos.
muito legal a leitura desse filme
ResponderExcluirProfessora gostei do texto votei duas vezes
ResponderExcluirAldo 6ªA
N° 1
HAHA MUITO LEGAL
ResponderExcluirA MESMA HISTORIA <~~
BRUNO
6B
professora selma estou lendo o livro que a senhora pediu,como num filme,estou gostando porem nao li tudo mais assim que ler eu posto outro comentario viu.
ResponderExcluirbjs ass valeria da 6e
escola silvia aparecida
muito legal esse texto 10
ResponderExcluirgabriel 6a
Professora !!!
ResponderExcluirGostei muito
achei bem interreante
Bjoss
Gabriel 6ªE
professora terminei de ler o livro adorei achei engraçado,triste ao mesmo tempo kkk mais adorei ha nao esqueçe do meu ponto ta numero 38 ta bjs ass valeria da 6e *------*
ResponderExcluirAdorei esse texto.
ResponderExcluirQuando meu pai me conta as história de sua vida imagino tbm como se fosse num filme, numa novela...
Gleci - 6ªE
professora eu amei esse livro achei um pouco tris mais porem muito legal adorei ha nao esqueçe do meu ponto viu kkkk numero 38
ResponderExcluirbjs ass valeria da 6e
achei esse texto muito dahora d+ viu pro me tocou rsrsrs bjs
ResponderExcluirnathali cardoso 6e
muito legal essa leitura desse filme prof amei
ResponderExcluiringrid...6B
Muuito leegal a leeitura desse filmee beem interessante !
ResponderExcluirLUCAS FÉLIX... 6ºB
kkk moul dauora prof eul gostei muito beijjos pedro 6ºe
ResponderExcluirlegaul prof adorei esse texto zikaah bjs Pedro 6ºe
ResponderExcluirNesse texto é muito interessante o jeito que ele compara a vida dele com o cinema
ResponderExcluirBeatriz Helena 6ªE
professora adorei nesse texto e muito interessante o jeito que ele compara a vida dele com o cinema gostei muto
ResponderExcluirbjs de sua melhor aluna gabriela 6e HA NAO ESQUEÇA DO MEU PONTO VIU PROFESSORA NUMERO 14 KK BJS GABRIELA 6E
dahora pro
ResponderExcluirnathali 6e